segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Apresentação da obra pelo professor Geraldo Jesuíno


Alvíssaras!
A mim bastaria que me oferecessem um pequeno enredo falando de Rachel. Seria suficiente para o meu contentamento. Mais ainda se no ensaio fosse alinhavada, mesmo cerzida superficialmente, anotação acerca dos valores que constroem nossa memória e cultura, tão lastimadamente relegados à crueldade do descaso,  em território apenas explorado por abnegados estudiosos no mister da investigação acadêmica e seus preciosos registros.
A mim bastaria me fosse oferecida, em alternativa à sopa rala e insípida das opções caça-níqueis do mercado de importação, uma História em Quadrinhos honesta e com a nossa cara.
Alvíssaras! Alvíssaras!
Em uma das mãos sustento a certeza de que o nosso Estado (Ceará) vê e incentiva já por algum lapso, embora curto, a sua produção de Histórias em Quadrinhos. Com a outra aciono as teclas do meu computador e, em versão primeira e privilegiada, esquadrinho, leio, estudo e me embeveço com os arquivos que me revelam Conversa de Rei, de André Dias, já a caminho, quiçá ainda a alcance, da Expressão Gráfica e Editora e ED!BAR, que lhe darão a feição impressa e definitiva.
Não fosse a minha escancarada paixão pelas H.Qs, teria dificuldade em decidir o que mais me impressionou neste trabalho, se a história em quadrinhos mesmo ou o tão desvelado estudo que o antecedeu, esteado em bibliografia confiável que propiciou montagem de uma coleção de dados, personagens e fatos históricos, ícones que permearam  um período da história cultural de Fortaleza. O cenário real, com seus atores e cenários, resgatados da memória da cidade, foi cuidadosamente estruturado e a ele somados, com apreciável força criativa,  a fantasia e o fantástico, garantindo-lhe o perfil de narrativa ímpar.
Executada com desenho marcado pela tendência expressionista e, atual sem ser apelativo, popular sem ser desleixado e iconográfico sem ser necessariamente duro, e quadrinização linearmente bem postada, Conversa de Rei se desenvolve em roteiro rigorosamente urdido, permitindo que estilos e técnicas da quadrinização se amoldem livremente a cada situação que posta diante do leitor.
Ao final, viajamos não apenas em uma narrativa em arte sequêncial, mas em cada quadro, em cada página, em cada fragmento da lembrança e em cada quadrante do universo poético/fantástico/criativo com o quais autor nos presenteia.
Temos, em síntese, em Conversa de Rei, de André Dias, uma HQ na concepção mais autêntica, e para meu maior júbilo, genuinamente cearense.
Alvíssaras, enfim.

Geraldo Jesuino da Costa

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